(ii) Não podemos ter sentido o mesmo que aquele homem enquanto não partilharmos uma vida com o outro. Não me refiro a momentos, mas a todos os momentos. E mesmo assim, pode nunca ser esse o efeito que a partilha venha a ter em nós.
(iii) Não sei se esta mulher sentiu o mesmo que ele, como muitos de nós nunca saberemos se fomos verdadeiramente retribuídos na real e absoluta dimensão dos nosso sentimentos. Mas, de facto, a ideia de que um homem que passou a vida ao lado dela a recorda desta maneira, é, no mínimo, uma boa razão para não nos contentarmos com a mediocridade nas relações. O amor não é, nem pode ser, um monovolume ou um utilitário citadino de baixo consumo. A amor só vale a pena se atingir as velocidades e elegância de um desportivo de grande porte com linhas arrojadas e que consuma muitos e muitos litros a cada 100 km (mesmo que de sangue suor e lágrimas)...
(iv) Não, eu, pelo menos, tenho noção de que me apercebi das coisas muito antes de as sequer ter tido, e talvez por isso elas não tenham realmente chegado a ser minhas. A verdade e a imagem crua do outro, sem artifícios, pode ser, no amor, mais castradora do que a traição ou défice de sentimentos quando bem disfarçados.