O Mel Com Cicuta acabou
A partir de hoje, podem encontar-me no A Alma Conservadora.
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A partir de hoje, podem encontar-me no A Alma Conservadora.
Os perdedores nunca serão mais do que uma breve linha na história dos que ganharam. É por isso que os vemos correr de braços abertos para a podridão.
Os optimistas sempre podem converter-se ao cinismo quando o mundo lhes esfrega na cara as imperfeições dos homens. Mas o que resta aos de nós que nunca tiveram grande impressão do ser humano? A morbidez de poder declarar que se estava certo?
Pior do que apoiar um louco e tentar legitimá-lo com o mero objectivo de atingir um propósito perverso, é apoiar um louco por se acreditar ainda que remotamente na bondade final da sua diatribe alienada.
Não sei se o leitor está a ver onde quero chegar, mas funciona um bocadinho como adoptar por bicho de sala um animal selvagem: há de haver um dia em que o bicho cheira, ao longe, o sangue dos bifes que estão a descongelar na bancada da cozinha e nos salta à goela.
Nessa altura, não peço mais do que uma cadeira e um bom copo de vinho tinto. Sou uma mulher simples, que, por vezes, tem o guilty pleasure de se deixar entreter pelo ridículo, mais do que pelo trágico.
Relações funcionárias, onde alguns assistem, com regalo, a uma aberração que dança desajeitadamente ao som do ridículo, fazendo ecoar, depois, gargalhadas alarves ante a exibição do grotesco que é a visão terrena e gradual da exibição das entranhas de um louco. Vamos, então, no meio do absurdo e da torrencialidade, falar da substância das coisas: não há princípios, não há discernimento, há a loucura de mãos dadas com o ressentimento e a ambição pacóvia, que arrastam tudo à frente. Não defendem nada, porque da pureza não podem falar os espúrios. Não defendem nada, porque pura e simplesmente não acreditam no que dizem e deixam dizer — nem podiam acreditar, porque o passado não se apaga, mesmo que se evite falar dele.
Que o mesmo sujeito queira ser o jogral, o bobo, o sábio, o eunuco e a amante do Rei, é coisa para confundir a população. A dada altura, andamos todos a rir do sábio, a ouvir a amante do rei, a temer os avanços físicos do eunuco, a buscar conselho no bobo e a fazer confidências ao jogral.
O que mata a criatura não é o ridículo de querer ser todas as coisas ao mesmo tempo, mas a percepção do povo de que tal cumulação é objectivamente impossível e que só pode estar a ser enganado.
Ao longo de toda aquela provação o seu horror mais profundo fora o isolamento, e não há palavras que exprimam o abismo entre estar-se isolado e poder-se contar com um aliado. Podemos conceder aos matemáticos que quatro são dois vezes dois. Mas dois não são duas vezes um: dois são duas mil vezes um. É por isso que, a despeito de centenas de inconvenientes, o mundo acabará sempre por voltar à monogamia.
O Homem que era quinta-feira, G.K. Chesterton.
Não sejam tudo, em directo, a todo o tempo, com todas a pessoas. Não presumam que estão autorizados a ser, sempre, absolutamente sinceros. A transparência, vício dos impolutos, está a dois ténues passos do asselvajamento e nem todos conseguem abster-se de transpor a perigosa linha. Os amigos dos nossos amigos não serão, por osmose, nossos amigos e as relações relativamente próximas não são necessariamente íntimas. Por isso, façam o favor de fingir, engolir em seco para não ofender, mentir, se preciso for, em vez de dar largas à vossa indefectível verdade.
Quando o utilizador não é suficientemente experimentado ou sequer polido para envolver a sinceridade num manto de delicadeza — e a menos que esteja a depor em tribunal ou ajoelhado em confissão — que se cale; e evite maçar aqueles que dedicam toda uma vida a escolher as palavras certas.
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