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Mel Com Cicuta

Without the aid of prejudice and custom I should not be able to find my way across the room. William Hazlitt

Without the aid of prejudice and custom I should not be able to find my way across the room. William Hazlitt

Mel Com Cicuta

25
Mai07

...

Laura Abreu Cravo
António e Mariana conheceram-se no lançamento de um livro de um amigo comum. Cedo identificaram interesses comuns e se uniram numa longa conversa que terminou com um jantar nessa mesma noite. Namoraram durante alguns meses, partilhando leituras, concertos e discussões políticas que fluíam noite dentro. Ao fim de algum tempo, perceberam que, apesar das afinidades, nunca seriam felizes juntos. O namoro acabou, procedeu-se à devolução dos livros e cds deixados na casa do outro, das roupas esquecidas na máquina de lavar. Decididos a evitar reencontros forçados e desconfortáveis dividiram a cidade ao meio, negociaram a custódia de livrarias e restaurantes. Cada um deles teria direito às livrarias mais próximas das respectivas casas e local de trabalho e a Fnac do Chiado — a preferida de ambos — seria alvo de tutela repartida cabendo a Mariana o turno de dia e a António o pós laboral. Tinham regulado o poder sobre Lisboa e evitaram-se, com sucesso, durante pouco mais de seis meses.
Esbarraram um no outro, por acaso, numa livraria em Paris — lutavam pelo único exemplar disponível de um Stendhal, que ele, como um cavalheiro, lhe cedeu — reconheceram, naqueles minutos, os traços que, a início, os aproximaram. E seguiram, separados, depois de assegurarem — seguindo com os dedos os trajectos solitários planeados, no mapa de cada um, para os próximos dias — que não se tornariam a cruzar.
23
Mai07

Breve história d'O Homem Que Se Rejeitou A Si Próprio

Laura Abreu Cravo
A caminho do fim da noite, num bar da moda, ela esperava, sozinha, o regresso de um amigo que a tinha deixado por breves momentos.

[Ele] – Olá.
[Ela] – (Preparava-se para responder, quando percebeu que não iria a tempo. Limitou-se a levantar os olhos do copo).
[Ele] – Não precisas de dizer nada. Eu sei no que estás a pensar. (E prepara-se para começar um monólogo, fazendo as vezes dela).
[Ela] – (Em silêncio, com semblante a transitar do entediado para o aturdido).
[Ele] – (Começa a declamar, em discurso directo, como se estivesse dentro da cabeça da menina à sua frente): Mas o que é que este palerma quer? Está uma miúda aqui, sossegada, à espera do outro — que por acaso não é meu namorado, mas esta criatura nem tem como saber isso— que foi à casa de banho (que sentido de oportunidade atroz, devo dizer) e vem um tipo qualquer perturbar-lhe o sossego e as contas de cabeça que fazia à vida. (interrompe e observa-a).
[Ela] – (entre o silêncio boquiaberto e a mudez divertida).
[Ele] – (Prossegue) Como se não bastasse o topete, não é nada de jeito. Está bem que é alto, mas já vi tipos com melhor aspecto. Não se coaduna com os meus padrões estéticos, mais virados, a bem da verdade, para o look beto surfista. Que maçada! Logo agora que eu estava a tentar decidir qual daqueles dois pares de sapatos que vi esta tarde é que devo comprar... Se calhar devia comprar ambos, afinal um dia não são dias. E este tipo que não se vai embora? Está bem que não é repelente, mas será que não percebe que se eu quisesse companhia já teria sequer esboçado um sorriso, por mais pequeno que fosse?
[Ela] – (ainda em silêncio, fixando as pedras de gelo do whisky).
[Ele] – (mantendo o ritmo) Se calhar é maluco. A mim calha-me toda a espécie de malucos. Já não se pode estar, calmamente, em lado algum, e vem logo um pateta destes abordar-nos. Se ao menos ele tivesse graça...Espero que não seja um tarado. Não, não tem ar disso... E daí não sei, nos dias que correm há de tudo. Que inferno! E o G. que não volta... Será que devo dizer alguma coisa? Talvez gritar-lhe... Não, também não é assim tão mau. Pode ser que se eu ficar muito quietinha ele se vá embora.
[Ela] – (Silêncio).
[Ele] – Muito bem. O seu amigo está a voltar e eu sou o André e queria agradecer-lhe a simpática oportunidade que me proporcionou de dar mais esta tampa a mim mesmo. Foi um prazer falar por si. Boa noite.

Ele afasta-se, o amigo dela regressa e leva-a embora para a vida lá fora.

Isto, caro leitor, não é ficção, mas sim a linha de engate mais bem conseguida da história da humanidade. E, como estas coisas são, a bem da verdade, como a patinagem artística, apesar da visível insuficiência ao nível técnico, o jovem André — nome fictício, bom de ver — merece não menos que 17 de nota artística. Porque, afinal, andamos cá para nos irmos entretendo uns aos outros.
22
Mai07

O sono dos cépticos

Laura Abreu Cravo
Por natureza -- e definição-- o céptico não acredita no próximo. Nem no que o tenha precedido. Ou melhor, o céptico acredita que todos eles mentem, mentiram ou mentirão. A todo o momento. Almas menos avisadas nestas andanças dirão que a vida do céptico carece de sossego. Que, não se fiando sequer na sua sombra, nunca o céptico se deixará dormir no morno regaço da confiança e intimidade.
Não é verdade. O céptico tem uma vida mais descansada do que o crédulo, por variadas razões: primeiro, porque desconfiando de toda a gente, não se vê obrigado a empreender a árdua e pouco grata tarefa de distinguir aqueles em quem pode daqueles em quem não pode confiar e, em segundo lugar, porque, não esperando nada do seu semelhante, dificilmente verá defraudadas as suas expectativas, acolhendo com agradável surpresa qualquer manifestação de humanidade valorativamente mais acertada.
Dito isto, se conclui facilmente que o sono do céptico é mais profundo, mais descansado: Convencido da maldade (ou da falta de bondade) dos que o rodeiam entrega ao acaso e à aleatoriedade a tutela dos seus bens morais e materiais ao invés de passar a vida num afinal desiludido frenesi para encontrar inexpugnáveis guardiães das suas virtudes.
21
Mai07

Princípio do trato sucessivo

Laura Abreu Cravo
Desta vez, para não maçar o leitor, esclarecemos apenas que o instituto jurídico acima referenciado não acolhe, com rigor, as situações de facto que serão tratadas infra, mas a exposição carecia de título e este, que nos martelava o espírito há vários dias, é tão apropriado como outro qualquer.

Definições: para os devidos efeitos considera-se
(i) ex-contraente: aquele que foi parte na relação gorada bem como qualquer seu ascendente, descendente ou colateral em primeiro e segundo grau;
(ii) bairro: a freguesia onde habita a outra parte ou qualquer das freguesias que lhe sejam contíguas;
(ii) legitimidade residencial: direito a frequentar e escolher os cafés do bairro, os restaurantes, a tabacaria e os supermercados.

(1) Quando, terminada uma relação, uma das partes adquire habitação própria, mandam as regras de decoro que o outro ex-contraente se iniba de adquirir habitação no mesmo bairro.

(2) Quando se verificar que a parte adquirente logrou comprar habitação onde já residia ascendente, descendente ou colateral em primeiro ou segundo grau da contraparte, releva, para efeitos de atribuição da legitimidade residencial, a boa fé do adquirente, ou seja, se este sabia ou não podia, à data da compra, ignorar, da precedência habitacional daquele(s).

(3) Não obstante o disposto nos números anteriores, quando uma das partes tenha, naquele bairro, a sua residência habitual e a outra não, cabem à primeira todos os direitos decorrentes da legitimidade residencial.

Posto isto, determina o bom senso jurídico que, either ways, da Estrela até ao Rato: I win, you lose.
21
Mai07

Classificados

Laura Abreu Cravo
Procura-se link para a gravação disponível online do programa "Portugal de" no qual Rui Ramos entrevista Miguel Esteves Cardoso. Respostas ao e-mail acima. Recompensa para a resposta mais rápida e eficiente. Antecipadamente gratos,
A gerência.

Adenda (pouco mais de duas horas depois do pedido de ajuda): esta casa está penhoradamente grata ao Tiago Galvão que nos fez chegar a companhia para um agradável serão.

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