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Mel Com Cicuta

Without the aid of prejudice and custom I should not be able to find my way across the room. William Hazlitt

Without the aid of prejudice and custom I should not be able to find my way across the room. William Hazlitt

Mel Com Cicuta

23
Set08

Alguém lhes mostrou um mapa?

Laura Abreu Cravo

Mão amiga faz-me chegar a notícia da abertura do primeiro Starbucks em Lisboa no próximo dia 30. Sem grande apego ao paladar do café, mas dependente dos discutíveis benefícios dos seus efeitos, cedo percebi que a minha ligação com o mundo dos que permanecem acordados dependia, em grande medida, da abertura de uma loja do grupo em Portugal ou, a médio prazo, da emigração. Afastada a segunda hipótese, vejo finalmente a concretização da espera e, sentindo já um tall moka a deslizar-me na garganta a caminho do escritório, percebo que a primeira loja vai abrir (*grunhido*) no Centro Comercial Alegro em Alfragide. Se dermos uma olhadela pelo mapa de lojas em Madrid (que concentra as lojas nas zonas do formigueiro do sector terciário) ficamos a achar uma de duas coisas: ou o tipo que fez o business plan para Portugal resolveu vingar um recalcadíssimo complexo de classe ou Alfragide é a nova Las Vegas do mercado financeiro português e eu não dei por nada. Também pode dar-se o caso de terem andado todos a experimentar um novo Starbucks de ginginha. Em doses industriais.

19
Set08

Interno Feminino

Laura Abreu Cravo

Abro jornais e revistas e vejo entrevistas a mulheres que desempenham um sem número de actividades. E sobre o que incidem estas entrevistas? O mais incauto responderia imediatamente que as mesmas incidiriam sobre um qualquer feito extraordinário, uma descoberta inovadora, um projecto que tenha mudado o país ou mesmo o comum desempenho de uma especial actividade. Desengane-se, caro leitor; ainda que a relevância técnico-dogmática da coisa possa ser levemente abordada, à segunda linha percebemos que a entrevista vai focar-se na e sobre a "condição feminina (revirar de olhos)". Como se consegue ser [preencher com profissão relevante] sendo mulher e como é que a criatura é recebida, compreendida e acarinhada pelos seus colegas do sexo oposto. Mais: se a criatura não for um estafermo, surge a inevitável e digníssima interrogação sobre a compatibilidade entre o reconhecimento profissional e a beleza. Nestas alturas, já um pouco mareada, pergunto aos meus botões porque é que os jornalistas continuam a fazer aquela pergunta idiota e percebo que só há uma resposta possível: há mulheres que gostam.

Vejamos: se, de cada vez que um simpático inquisidor perguntasse a uma senhora “então como é que consegue ser levada a sério pelos seus colegas homens sendo você uma mulher, e, mais ainda, bonita?” a entrevistada, em vez de fazer boquinhas -- enquanto, falsamente, se declara envergonhada -- ou balbuciar qualquer coisa absolutamente inaudível e sem ponta de credibilidade ou veemência sobre a inutilidade da pergunta, o mandasse (a ele e à sua pergunta idiota) para o digníssimo raio que o parta, mais dia menos dia, a pergunta saía de circulação. 
Lamento. As mulheres capazes, inteligentes e muito bonitas não me entusiasmam. Apenas porque, felizmente, conheço muitas. E todas elas se sentiriam absolutamente insultadas com o paternalismo acéfalo do tema.
Quando descobrirem uma tetraplégica que pinte com a boca para sustentar sete filhos, ou uma que seja capaz de arrastar camiões com os dentes, aí sim, podem falar-me de capacidades extraordinárias e invulgares para a condição feminina. Até lá, andamos, pura e simplesmente a lutar pela vidinha. Nós mulheres, os homens e todas as outras criaturas do Senhor. Apre.
 
11
Set08

Dry

Laura Abreu Cravo

Os verões de adolescência eram passados sempre na mesma casa, com rotatividade de convivas. No entanto, havia um ponto comum a todos os serões. “Pernoitantes” e visitas dividiam-se em grupos de 4 e jogava-se King durante várias horas. Lembro-me que o perdedor da partida ficava encarregue de prover das bebidas dos restantes, e que isso implicava que se tivesse estabelecido uma regra de contenção de prejuízos que determinava que ninguém seria penalizado duas vezes. Ou seja: o perdedor ficava de fora nas contas do jogo seguinte. Chama-se “ter Dry”. O Dry permitia a justiça das contas e a protecção dos mais inábeis ou azarados. Uma espécie de socialismo aplicado. Dei por mim a pensar que não jogo King há, pelo menos, 6 anos, mas que, nesta mão de jogo, não há Dry, nem justiça distributiva.

10
Set08

Diário de bordo

Laura Abreu Cravo

É certo que certa categoria de condições adversas e pontuais realça o pior do ser humano. Seja por efeito da surpresa, pela inevitabilidade do circunstancialismo ou por mero instinto de sobrevivência. Contudo, raras vezes assisti a demonstrações de humanidade e decência tão válidas como aquelas nascidas de território insuportavelmente árido e hostil. São mais os prisioneiros de uma mesma guerra que partilham de forma abnegada os seus parcos recursos do que aqueles que se isolam na sua pequena ambição.

E isto restaurou parte da minha fé na humanidade. (Em situações-limite, entenda-se, já que no tédio do dia-a-dia a bula continua a prescrever cinismo em doses generosas).

10
Set08

Normas transitórias

Laura Abreu Cravo

Mudar tudo, a todo o tempo; manter, exclusivamente, o que importa; regressar ao que deixámos sem conseguir esquecer. Este blogue, com autora alterada, aditada e republicada, voltará a entrar em vigor após vacatio legis prolongada.

 

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