Michael Jackson
Em bom rigor, já estava morto há muito tempo.
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Em bom rigor, já estava morto há muito tempo.
Comprei hoje uns Jimmy Choo maravilhosos que me levarão ao altar. Não quero comentários sobre a racionalidade económica da minha escolha tendo em conta o comprimento do vestido. O mundo poderia não ver nunca nada, mas eu não andaria aquele corredor em cima de umas coisas mal enjorcadas feitas por uns senhores muito sérios e jeitosos ali na avenida de Roma. Ou noutro sítio qualquer.
Não tenho qualquer espécie de simpatias feministas. Mas a boa educação não é uma questão ideológica. Parece-me do mais linear bom senso que um marmanjo deixe passar uma senhora na porta e evite atirá-la ao chão para conseguir um lugar no metro. E não, os gays não estão isentos de cumprir estas regras.
Não tenho a menor das paciências para machistas ultramontanos de direita que pararam em 1967. Mas tenho ainda menos para os recém-paridos machistas de esquerda que, apesar do imenso mar de igualdade que apregoam, fazem notar que afinal sempre há um tipo de mulheres inferior: as de direita.
Ontem, depois de um dia nas Galés, arrastei-me para casa onde fui acolhida por paredes que tremiam porque alguém teve a ideia peregrina de fazer uma rave com transe psicadélico no largo Camões, que às 23:30 e depois de vários telefonemas para a PSP, ainda não tinha acabado. Acho mesmo que o único argumento capaz de convencer os polícias acomodados na sua inércia, terá sido o quase sussurrado “eu tenho uma arma, o DJ na mira, e não tenho medo de usá-la”.
Lá consegui desmaiar na cama para acordar com os galináceos, morrer de calor até ao escritório, trabalhar a mil à hora, enviar 385 e-mails, acabar 33 contratos, adjudicar um orçamento ao pintor e outro ao carpinteiro, escolher o tom da tinta por telefone, correr até ao Chiado para engolir umas coisas verdes e ir escolher um vestido para a minha insatisfeita progenitora, correr até ao atelier debaixo de setenta graus onde consegui discutir um projecto de fusão enquanto me cobriam de tecido e alfinetes numa coisa que (garantem) será um vestido de noiva, discutir de forma igualmente apaixonada com a empregada doméstica que queria trocar o dia de trabalho e com um fiscalista que alegava que naquela fusão não havia relações de troca entre os accionistas das sociedades envolvidas, arrastar-me de volta para o escritório e estar, neste exacto momento, a queixar-me da vida, para passar imediatamente aos 5 contratos que faltam, mais as respectivas traduções e seguir, em tempo útil, para um jantar em família. Está tudo bem.
Hoje, à hora de almoço, no Saldanha, via-se por todo o lado a prova de um casual friday oficiosamente instituído nos escritórios das imediações. Deus nos proteja da liberdade criativa.
Saí para comer qualquer coisa e fui imediatamente apanhada pelo calor abrasador. Corri ao ar condicionado mais próximo. No regresso, ouço sirenes e batedores. Eram as noivas de Santo António, transportadas em descapotáveis clássicos. Estavam cerca de 178 graus e as noivas atravessavam Lisboa sem capota. Não vi nada dos vestidos, mas, lá de onde eu estava, adivinhava-se muita maquilhagem a derreter.
É claro que devemos reger-nos pelos nossos padrões civilizacionais (e da mais básica educação) ainda que o nosso interlocutor seja um grunho. Saímos da contenda com elevação por não termos abdicado de jogar o jogo segundo as nossas regras. Mas há dias (que os há) em que a elevação nos faz doer as costas. E teria sido tão mais fácil mandar o grunho para o raio que o parta.
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