22
Nov07
Das coisas que realmente m’ atormentam
Laura Abreu Cravo
O invernou chegou altivo e ocupou os dias nossos. As noites cortantes para os mais audazes, os dias de um frio arrependido na timidez de uns raios de sol frouxos. Desde Sábado que passam por mim, na rua, os primeiros cachecóis deste ano e paira, nos lugares públicos, um cheiro vago mas permanente da naftalina trazida nos casacos dos frequentadores. No Chiado, castanhas que queimam as pontas dos dedos e uma Fnac sobreaquecida que nos alenta do frio enquanto nos despe (desaforadamente) a carteira; e, por todo o lado, a ameaça da inevitabilidade natalícia. Entre o consumo desenfreado dos que (disciplinadamente) se antecipam nas compras e a multidão que passeia as mais diversas formas de pagamento, uma preocupação crescente me invade a alma:
Serei eu a única pessoa que acha que as colecções de sapatos de este Inverno não têm nada para dar ao mundo? Voltaremos a este assunto.