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Abr09
A bulha imobiliária
Laura Abreu Cravo
J costuma dizer que cada proprietário português acha que tem um palácio. Cada vez tenho menos dúvidas quanto à pertinência desta afirmação. Na busca recente por novo poiso para o agregado familiar, vimos de tudo. Casebres inflacionados a palacetes, T3 onde não caberiam (todos) os meus sapatos, a profusão de condições absurdas para a celebração dos contratos de arrendamento, senhorios que não arrendam casas a advogados (com medo de litigâncias futuras ou de arrendatários que, sei lá, pretendem exercer os direitos que a lei (e o bom senso) lhe conferem). Mas nada como aquela casa na lapa, perto da embaixada de França, que se fazia anunciar no site, como um t2+2 com Jardim de 120 m2.
Chegados ao prédio, avançámos pelas razoáveis assoalhadas até chegar ao jardim onde, no meio da abundante vegetação (e daquilo que deveria ser a área de lazer), desvendámos um cubo em rede de arame que fazia as vezes de galinheiro. Mais por graça do que por fé, perguntei em tom de afirmação se a fauna seguiria o seu rumo caso decidíssemos fechar negócio. A simpática proprietária informou-me que, não tendo outro local onde deixar os animais, o arrendamento teria de incluir os bichos. Que se oferecia para pagar o milho, mas queria acesso à casa duas vezes por mês para averiguar da saúde dos ditos. Ante a minha apoplexia, a senhora descomplexou a coisa afirmando que eu não me preocupasse, porque se oferecia para (juro) pagar o milho.
Naturalmente que zarpámos dali para fora bem a tempo de dar uma descompostura ao incompetente agente imobiliário que nos levou sem nos avisar que estaríamos a arrendar um par de galináceos. A vontade que eu tive de dizer que sim. E, depois, encomendar uma raposa de estimação.