Doces 90
Lembro-me que, na escola secundária onde andei (como em todas as escolas secundárias dos ínicios dos anos 90) havia um grupo de metaleiros altamente rebelde e respeitado entre os mais novos. Eram os improváveis irmãos Barreto cujo nome de família denunciava as origens betas e dava cabo da estatística grunge. Quando olhava para aquela tribo, de calças elásticas e t-shirts temáticas, perguntava a mim mesma que músicas estariam a ouvir nos Walkman Sony que traziam sempre ligados. Imaginava os típicos cânticos guturais de adoração a demónios (tanto mais porque se vivia na altura a agitação daquele rapaz de Ílhavo que resolveu despachar a família toda num agradável fim de tarde). Um dia, a turma do mais novo dos irmãos partilhou com a minha turma a aula de trabalhos manuais. Olhei para o rapaz e perguntei o que estava a ouvir. Estendeu-me os headphones. Era o Sangue Oculto, dos GNR. O mesmo que eu ouvia com entusiasmo há semanas, mas que, para movimento metaleiro me pareceu um bocado pífio e normopata. Mais estranho do que aquilo, só se estivesse a ouvir Maria Guinot. Desde então, nunca mais consegui olhar os bad boys da mesma maneira.