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O dia amanheceu como se tivesse mesmo de ser de felicidade, impondo-se um céu azul sobre o Tejo deitado aos nossos pés no fim da rua comprida. No sentido inverso da amálgama de gente, reconheci a rapariga gótica que me vende sapatos, o austríaco simpático dos brunch de Sábado que acena indistinta e afirmativamente a qualquer frase que se lhe dirija em português, o rapaz do quiosque onde compro os jornais. A vida corre pacata e morna, sem as inquietações de outros tempos, entre planos e projectos e expectativas. Dois rapazes discutem animadamente os planos para a final da champions league logo à noite, as manchetes dos jornais oferecem-nos bocados do espectáculo de Oliveira e Costa no parlamento e, de forma algo turva, continuo a ver Marinho Pinto aparecer entre o empedrado da rua vomitando disparates. Passo por tudo, desatenta, sem que me apeteçam pessoas e sol e a comunhão dos que assistem ao futebol. Sem a justificação que as nuvens melancólicas ofereciam, chega a culpa de não se estar tão feliz como as circunstâncias exigem. Os católicos arranjam sempre uma razão qualquer para estarem em falta para com mundo. Raios nos partam.