Está tudo bem, mas eu tenho uma arma.
Ontem, depois de um dia nas Galés, arrastei-me para casa onde fui acolhida por paredes que tremiam porque alguém teve a ideia peregrina de fazer uma rave com transe psicadélico no largo Camões, que às 23:30 e depois de vários telefonemas para a PSP, ainda não tinha acabado. Acho mesmo que o único argumento capaz de convencer os polícias acomodados na sua inércia, terá sido o quase sussurrado “eu tenho uma arma, o DJ na mira, e não tenho medo de usá-la”.
Lá consegui desmaiar na cama para acordar com os galináceos, morrer de calor até ao escritório, trabalhar a mil à hora, enviar 385 e-mails, acabar 33 contratos, adjudicar um orçamento ao pintor e outro ao carpinteiro, escolher o tom da tinta por telefone, correr até ao Chiado para engolir umas coisas verdes e ir escolher um vestido para a minha insatisfeita progenitora, correr até ao atelier debaixo de setenta graus onde consegui discutir um projecto de fusão enquanto me cobriam de tecido e alfinetes numa coisa que (garantem) será um vestido de noiva, discutir de forma igualmente apaixonada com a empregada doméstica que queria trocar o dia de trabalho e com um fiscalista que alegava que naquela fusão não havia relações de troca entre os accionistas das sociedades envolvidas, arrastar-me de volta para o escritório e estar, neste exacto momento, a queixar-me da vida, para passar imediatamente aos 5 contratos que faltam, mais as respectivas traduções e seguir, em tempo útil, para um jantar em família. Está tudo bem.