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Ouço o ruído dos entusiasmados com os destinos do país e a dívida como quem entrou num restaurante para comer rapidamente sozinho e aterra no meio de vários jantares de grupo que festejam aniversários e fins de curso. Tudo me parece um pouco difuso, como acabado de acordar, e os sons aparecem como que enfiados dentro de uma caixa de ressonância fazendo eco sobre si mesmos. No meio da confusão, tento esgueirar-me a dar opiniões. Não é cinismo, é desalento. Não reconheço brilhantismo no trabalho apresentado por este governo e custa-me comprar a ideia de que investimento público com consequências a longuíssimo prazo seja a medida certa, adequada e proporcional para compensar a ocasional renitência assustada dos privados em investir. Mas custa-me mais olhar para a alternativa e ver uma mancha de gente e de som, semi-entrincheirada, a lutar guerras pessoais esquecendo-se do país e dos eleitores, que adia a apresentação das suas propostas para uma altura em que já não haverá grande tempo para discuti-las, deixando-nos a todos, à direita, com coisa nenhuma para contrapor ante a interpelação entusiasmada da esquerda. Não é enfado, não. É desalento.