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Mai07
O difícil foi ficar sentado, com tanto sangue a ferver.
Laura Abreu Cravo
Esta noite, no CCB, não esperava grande coisa. Tinha ouvido duas ou três músicas do tal cantor flamenco que me era anunciado como coisa fora de série por um amigo próximo. Longe de figurar na lista das minhas escolhas naturais, Cigala levou-me, ainda céptica, sobretudo pelo bom pretexto de rever uma cumplicidade antiga. O concerto começou, com esta mesma música e o cigano de sangue fervente mas na altura ainda morno fez-se acompanhar pelos mesmíssimos Yumitus no piano, Yelsy Heredia no contrabaixo, Diego El Morao na guitarra e SABU na percussão.
As músicas foram-se seguindo, a sala aquecendo e aquela voz poderosa entre o choro cantado e o grito resvaladiço encheu todos os cantos e espaços e passou, como um braço á volta da cintura delas e um outro à volta do ombro deles, seduzindo-os um a um.
A paixão — estado de exaltação e arritmia — germina no impacto da surpresa. Seja quando essa surpresa dimana do embate primeiro, seja quando — depois de muitos contactos e repetidos encontros, sem que deles tenha surgido efeito especialmente entusiasmante — aparece sob a forma de revelação, véu levantado de descoberta do já antes visto mas não enxergado.
Esta noite, lamentavelmente, seria a noite ideal para nos termos apaixonado.
As músicas foram-se seguindo, a sala aquecendo e aquela voz poderosa entre o choro cantado e o grito resvaladiço encheu todos os cantos e espaços e passou, como um braço á volta da cintura delas e um outro à volta do ombro deles, seduzindo-os um a um.
A paixão — estado de exaltação e arritmia — germina no impacto da surpresa. Seja quando essa surpresa dimana do embate primeiro, seja quando — depois de muitos contactos e repetidos encontros, sem que deles tenha surgido efeito especialmente entusiasmante — aparece sob a forma de revelação, véu levantado de descoberta do já antes visto mas não enxergado.
Esta noite, lamentavelmente, seria a noite ideal para nos termos apaixonado.